Texto: Jéssica Ferreira

O movimento quilombola é educador. A luta por terra é fundamento para a organização política, econômica e cultural das comunidades remanescentes que ocupam mais de 24 territórios do Brasil. A Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) é responsável por autodeterminar territórios tradicionais em função da sua origem étnica e racial, “devolvendo” os direitos de controle das terras a esses grupo. Ainda assim, as comunidades vivem na iminência das políticas de desmatamento, construções não autorizadas e extermínios. As incidências políticas e organizações rurais nos ensinam novos caminhos de luta.

Pelas trocas de conhecimentos e vivências educacionais, organizacionais e ancestrais, coordenadores e professores de núcleos da UNEafro foram acolhidos no final de semana do 29 de março pela comunidade do quilombo Ivaporunduva – Município de Eldorado São Paulo – e também membros da CONAQ. Com a imersão na história da região e os compartilhamentos de saberes, pela continuidade da resistência, fortalecemos a aliança negra campo-cidade.

Quilombo segue sendo refúgio. Por mais de 300 anos, os negros que conseguiam escapar da escravização, construíram moradias coletivas para protegerem uns aos outros. Atualmente, as comunidades remanescentes, reestruturam os quilombos através da luta por direito à terra, funcionando como espaços de manutenção da cultura negra e da ancestralidade africana. Nesse sistema, a liderança das mulheres quilombolas sempre se deu de maneira importantíssima na organização da comunidade, condicionada a uma herança onde estas deveriam assumir as tradições e manifestações culturais, e portanto, detinham com propriedade os saberes tradicionais, rezas, medicinas naturais e comidas. Ainda assim, as estruturas nunca as pouparam das opressões de gênero e da escassez de políticas públicas direcionadas: acesso a terra, educação, saneamento básico, saúde, transporte, água, cultura, estabilidade jurídica e segurança.

Neste sentido, o maior desafio é a reivindicação de uma agenda política para as mulheres quilombolas. Através da perspectiva de identidade racial e de gênero, considerando o estigma da mulher negra ainda mais latente para as mulheres quilombolas, estas constroem estratégias de avanço no debate da territorialidade, estimulando outras mulheres e jovens a envolver-se no movimento quilombola e fortalecer os processos políticos de toda uma comunidade.

Assim, retomando a memória das ancestrais que tombaram nas lutas pelos conflitos agrários ou violências domésticas, Brasília (DF) irá receber nos dias 24 a 28 de maio de 2020, nas dependências do Centro Comunitário da UNB, o II Encontro de Mulheres Quilombolas: Resistir para Existir. Serão 500 mulheres de 24 estados brasileiros, transmitindo a resistência pelo rompimento da estrutura colonial e assim, consolidando a luta por terra, políticas públicas e condições de existência.

FOTOS: UNEafro, CONAQ e Coalizão Negra Por Direitos firmando alianças de fortalecimento da luta campo-cidade.

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