A Uneafro Brasil realiza nesta quinta (8), às 19h, seu segundo aulão ambiental. Com o tema “Bem viver, comum e ubuntu”, o encontro faz parte do projeto de criação de hortas comunitárias em três núcleos do movimento. Por meio deste projeto, as temáticas da agroecologia e da soberania alimentar são sugeridas como caminhos efetivos no fortalecimento das comunidades e na resistência ao racismo, sendo assim, incorporados às formações políticas realizadas em núcleos da Uneafro Brasil. O evento é gratuito, aberto ao público e conta com apoio do Instituto de Referência Negra Peregum e da Fundação Rosa Luxemburgo. Clique aqui e se inscreva.
O evento será mediado pelo biólogo, professor e coordenador do núcleo da Uneafro Brasil na Ocupação 9 de Julho do MSTC, José Henrique Lemos, mais conhecido como Zé Henrique. Na ocasião, pretende-se debater o tema do “Bem-viver”, em relação às noções de comum e ubuntu, além de ser experimentado no trabalho de campo por meio da criação das três hortas comunitárias urbanas. Para isso, a Uneafro Brasil convidou aquela que cunhou este conceito.
Trata-se de Nilma Bentes, engenheira agrônoma, uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) e propositora da Marcha das Mulheres Negras, que ocorreu em Brasília (DF), em 2015, e reuniu mais de 50 mil mulheres negras na capital federal. Nilma também é integrante da Coalizão Negra por Direitos.
“Bem viver” é uma concepção de vida proveniente dos povos indígenas andinos, presente tanto nos Aimara (Bolívia) quanto nos Quechua (Bolívia e Equador), e também dos povos Guarani (Brasil, Paraguai). Grosso modo é a forma de organizar a sociedade, pensando no coletivo, assim como faziam estas comunidades tradicionais, considerando o equilíbrio da relação entre as pessoas, natureza e o modelo econômico. O conceito está na contramão de um modelo de desenvolvimento que considera a terra e a natureza apenas como insumos para a produção de mercadorias de rápido consumo e, mais rápido ainda, descarte. Modelo este utilizado ainda atualmente para sustentar o modelo capitalista em que os governos priorizam os mega investimentos, as grandes barragens, a exploração mineral, as monoculturas que degradam o ambiente e envenenam a terra, as águas e todos os seres vivos.
Ao fazer a conexão deste conceito com o bem comum e ubuntu, a Uneafro Brasil ainda convida Juliana Gonçalves, mestranda em Estudos Culturais (USP) onde pesquisa o significado do conceito bem viver para mulheres negras. Ela é jornalista, ativista dos direitos humanos com foco em raça e gênero e integra a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. Atualmente, coordena a articulação política da Mandata Quilombo de Erica Malunguinho na Assembleia Legislativa de SP (PSOL).
Uma sociedade sustentada pelos pilares do respeito e da solidariedade faz parte da essência de ubuntu, filosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras.
E aí também está um dos grandes objetivos da Uneafro com este encontro. A promoção de trocas e debates entre movimentos negros urbanos e rurais será importante para o fortalecimento de laços políticos e fortalecimento da agenda da Coalizão Negra por Direitos.
A resistência ao racismo, ao machismo e ao capitalismo passam necessariamente pela soberania alimentar, pela preservação do meio ambiente, pelas práticas de cuidado e pela terra. A juventude negra, torturada e assassinada nos supermercados, não pode seguir comprando veneno para aumentar o lucro de seus assassinos.
O modo atual de organizar a sociedade e a economia levará a humanidade a vivenciar ainda mais com catástrofes climáticas, pandemias, entre os impactos severos. É necessário uma outra economia, que atenda às necessidades das pessoas sem destruir as condições naturais que permitem a vida. E não no pensamento no lucro como objetivo para viver, mas na vida e na terra que dá essa vida. Vivendo em harmonia com a natureza.
Participe do encontro, convide seus amigues e familiares.