A Secretaria de Relações Institucionais do Governo Federal promoveu no último dia 29 de junho um encontro de autoridades com estudantes, professores e voluntários da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro Brasil). O evento ocorreu no Palácio do Planalto, com a presença da ministra do Esporte em exercício, Juliana Agatte, e o assessor especial Diogo Silva. Também estiveram presentes o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, representantes dos ministérios dos Direitos Humanos e Cidadania, da Cultura e da Igualdade Racial.
A ministra em exercício afirmou que o esporte no ambiente escolar pode ser um meio de enfrentamento do preconceito. Segundo ela, um dos focos do MEsp do Governo Federal é proporcionar o esporte de maneira igualitária, com acesso amplo e democrático, para jovens, adultos, idosos, pessoas com deficiência e toda a sociedade. “O esporte consegue identificar dificuldades e realizar superações. Em uma aula de educação física, os professores podem notar dentro desse espaço sinais de discriminação, violência e desigualdade, e trabalhar isso em sala de aula. Lutamos para ter uma política do esporte que abrace a todos, com garantia de que tenham acesso a políticas públicas.”
Ela falou sobre o programa de patrocínio do ministério, o Bolsa Atleta, e sobre o combate ao racismo. “Hoje, temos 8,2 mil atletas beneficiados no programa, em que que 45% se declaram negros ou pardos. Temos que apoiar e educar, para que não exista mais racismo e discriminação dentro do esporte. Estamos em contato com federações e confederações para ações afirmativas de inclusão em todos os esportes.”
Ao explicar a Estratégia Nacional para o Futebol Feminino, Juliana recebeu aplausos e apoio da plateia presente. “Queremos melhores condições e maior visibilidade às meninas e mulheres do futebol. As mesmas condições ofertadas pelo futebol masculino. Esse é um importante espaço de escuta, pois não conseguimos fazer uma política pública eficiente sem ouvir vocês. No ministério estamos abertos a todas as conversas, para o direito de acesso a atividade física, esporte e lazer. Reunidos, vamos construir o Brasil que queremos e precisamos, transformar sonhos em realidade. Todo esporte de rendimento vem de uma base.”
O assessor e ex-atleta olímpico do taekwondo Diogo Silva contou um pouco de sua trajetória e estimulou os estudantes. “Eu me reconheço em vocês nessa caminhada. O esporte pode ser o caminho para vocês junto da educação. Fui bolsista a minha vida toda, eu consegui, e estou aqui com vocês. O esporte pode ser visto como primeiro emprego também, um caminho para a universidade e para o futuro de vocês. É preciso criar políticas públicas para a efetivação do esporte em conjunto com movimento da educação e da cultura. O movimento de vocês hoje já está reverberando, acreditem.”
A agenda da UNEafro em Brasília foi extensa. Estudantes, professores e voluntários participaram de uma aula pública sobre taxa de juros no Banco Central e se reuniram com as ministras Anielle Franco e Marina Silva, antes do evento no Planalto com representações do Governo Federal. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal também abriram as portas aos estudantes para reuniões com deputados sobre o tema racial e senadores sobre educação básica.
“Esse encontro é uma oportunidade imensa de avançar nossa agenda no Governo Federal. Esse espaço é importante para ouvir o movimento negro de base que a UNEafro representa. Nosso objetivo é construir uma jornada de luta pela educação nas escolas públicas de periferias do país”, disse o conselheiro da UNEafro e um dos articuladores para a realização do evento, Douglas Belchior.
Ele frisou a relevância de promover a educação nas periferias brasileiras. “O movimento negro sempre lutou pela educação, somos um dos movimentos de maior capilaridade do país, temos orgulho de ter uma rede imensa de militância de professores voluntários. E me orgulho de ver no governo pessoas que reconhecemos, que lutaram e lutam conosco.”
O ministro Wellington Dias falou dos ganhos do Bolsa Família, que tirou 55 milhões de pessoas da extrema pobreza no Brasil. “Desses, 73% são pessoas que se declaram negras. Vocês não estão sozinhos, o governo está olhando para vocês. A educação é o alicerce e o presidente sabe disso, fazendo programas para jovens do Cadastro Único não largarem os estudos e reduzir o número de aprovações. Ninguém vai tirar o direito de vocês de sonhar.”
Depoimento de estudantes
A UNEafro existe há 14 anos trabalhando em defesa da educação e pela igualdade de oportunidades e de justiça para pessoas negras, quilombolas, indígenas, periféricas e juventude. Ela é um movimento que se organiza em núcleos de atuação, sendo o trabalho principal os cursinhos pré-vestibulares comunitários que atendem jovens e adultos de escolas públicas, para preparo de ingresso no ensino superior, Enem ou concursos públicos. Os professores são voluntários.
Levi Castro é cadeirante e participa da UNEafro. Em seu depoimento, falou sobre a dificuldade de entrar e permanecer na faculdade. “A UNEafro é fundamental no apoio a estudantes. Atendemos todas as idades, alunos do EJA, em todas as condições. Conseguimos patrocínio para alimentação durante a pandemia, psicólogos, somos muito unidos. Temos que lutar também pela política de permanência nas universidades. Comecei três faculdades e só consegui finalizar uma. Porque temos que trabalhar. Temos que fazer uma educação inclusiva e acessível, pensar na população que é inviabilizada.”
Amanda dos Santos é da ocupação Nove de Julho, no Rio de Janeiro. Ela pontuou a necessidade de dar oportunidades sociais aos jovens. “Racismo é uma doença na sociedade. Estou na UNEafro, e quando me formar voltarei para ajudar uma outra Amanda, como eu, que estarei aqui. Precisamos de mais espaço de educação, cultura, lazer e esporte para dar cidadania às pessoas marginalizadas. Não dá para fazer política para nós, sem nós.”