Na manhã desta segunda (1º), o Governo Federal anunciou sua nova meta do clima durante pronunciamento do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, no estande brasileiro em Glasgow, onde ocorre a 26ª Conferência das Mudanças Climáticas da ONU. A meta apresentada pelo País passa de 43% a 50% de redução dos gases de efeito estufa até 2030, considerando os níveis de 2005. O País ainda promete a neutralidade de carbono até 2050. Porém, mesmo se o governo utilizar as bases de cálculo mais recentes, a meta apresentada nada mais é do que a mesma de 2015, do governo Dilma.
“Sabe aquela empresa que aumenta o preço de uma mercadoria e depois reduz para dizer que fez uma grande promoção? É isso que o governo Bolsonaro está fazendo com o clima. O problema aqui é que, mais uma vez, eles estão brincando com a vida dos brasileiros, assim como fizeram na pandemia de Covid-19”, afirma Douglas Belchior, historiador e cofundador da Uneafro Brasil.
Essa “promoção” refere-se ao fato de que, em 2020, o governo brasileiro aplicou uma pedalada climática. Nela, foi apresentado um novo cálculo de emissões que possibilitaria o Brasil emitir mais 400 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), também se comparado à meta de Dilma.
Logo na abertura do evento do Brasil, destacaram que “vamos mostrar aqui que o Brasil tem casos de sucesso que o futuro verde já é realidade no país” e que protegem a floresta e valorizam os povos tradicionais, mais uma vez o governo mente. o que é mentira. Ainda como um candidato à presidência da República, Bolsonaro sempre fez questão de atacar os povos indígenas e quilombolas.
Com o novo anúncio, o governo não apresenta maior ambição na meta – ao contrário do que disse o ministro em seu discurso. O governo ainda poderá oferecer possibilidades para que mais gases sejam emitidos, atendendo assim os interesses dos grupos que Bolsonaro defende.
Em seus discursos, Bolsonaro e Leite usaram muitas frases, como “o futuro verde está no país” e usaram daquelas conquistas dos últimos anos, já de conhecimento de todos. Para nós, vale atenção a pequenos detalhes. Bolsonaro citou um programa de “crescimento verde”, “agir com responsabilidade” e que o Brasil sempre foi “parte da solução, não do problema”, como uma certa confirmação de que agora a política de Estado do Brasil é o problema.
Sendo assim, o discurso do governo traz seu olhar para crescimento, financiamento e para alcançar, conforme disse o ministro, “soluções inovadoras, que proporcionem avanços econômicos, com crescimento verde. E o Brasil é parte dessa solução.”
Que crescimento é este que o governo está dizendo? Precisamos pensar em um novo ciclo econômico que não repita os mesmos processos históricos de carbonização do Planeta que impactou, majoritariamente, as populações periféricas, negra e os povos originários. O que é atingir essas metas, considerando um país de violências históricas, como o racismo ambiental? Essa crise é humanitária e as respostas têm que vir nessa mesma direção. Mas isso não existe no governo Bolsonaro.
O desenvolvimento proposto por Bolsonaro e seus grupos apoiadores ameaça comunidades tradicionais. As comunidades quilombolas e indígenas, por exemplo, envolvem a nação a partir de suas produções. Somos contra este modelo de desenvolvimento trazido por Bolsonaro, não nos interessa. Ele quer continuar criando “donos de terras e de corpos” para seguir sua política de supremacia branca.
Leite ainda destacou que é a hora “de apontar fragilidades ambientais dos outros para ações globais colaborativas, rumo a um futuro melhor para todos”. Mais que apontar para fragilidades dos outros, o governo precisa olhar e agir para acabar com as suas. Aliás, não sua fragilidade, mas seus crimes contra o meio ambiente e à vida.
O governo não aumentou a ambição, apenas quer fazer do clima uma promoção de fim de ano para continuar promovendo seu genocídio contra o povo brasileiro, principalmente a população negra, indígena e periférica.
Uneafro Brasil