Julia Gomes é a mais nova integrante do Conselho Estadual de Juventude de São Paulo. Eleita com 648 votos, ela terá um papel fundamental no combate ao racismo dentro do órgão que reúne governo e sociedade para pensar, planejar, articular e fiscalizar políticas voltadas para a juventude. A tarefa é ainda mais urgente neste contexto político, com Tarcísio de Freitas à frente do governo do Estado, que ainda não assumiu, mas já ameaça a vida e a dignidade da juventude negra e periférica de São Paulo.

Aos 19 anos é articuladora cultural pelo Coletivo Máfia das Minas, pelo Movimento Antirracista Dandara e faz parte do Coletivo de Juventude da Uneafro Brasil. É moradora do município de Mauá, na Grande São Paulo, e já foi aluna do núcleo Tia Jura, em São Bernardo do Campo.

A jovem explica que suas expectativas estão concentradas em colocar o projeto político do movimento negro no centro do debate sobre juventude no estado de São Paulo. “Hoje, construindo dentro do próprio movimento um fórum permanente de discussão, que é o coletivo de juventude da Uneafro Brasil, com representantes dos mais de 40 núcleos de educação popular, esse espaço é fundamental porque apresenta a realidade das diversas juventudes que compõem o estado, com desafios da periferia e do campo. Fortalecer o diálogo com esse espaço da articulação do movimento e somar em construções de outros movimentos progressistas de juventude é um dos caminhos que queremos seguir para colocar no centro das discussões as demandas dos jovens que mais precisam”, afirma.

Julia é também graduanda em Letras no Instituto Singularidades, como futura educadora ela propõe um olhar atento à reforma do Ensino Médio, ao avanço do Programa de Ensino Integral e à criminalização da cultura produzida pela juventude periférica. “O cenário que tem se moldado infelizmente é evasão escolar, fechamento de salas do EJA (Educação de Jovens Adultos) e nenhuma estrutura real para que a juventude possa permanecer com qualidade tantas horas dentro da escola. Outro ponto crucial é a criminalização da cultura produzida pela juventude periférica. Eu sou uma jovem que nasceu e se criou nas batalhas de rap, no funk. Esses espaços formulados pela juventude precisam ser potencializados e não criminalizados.”, explica.

Durante o governo Bolsonaro, a juventude foi severamente afetada pela ausência de políticas de inclusão no primeiro emprego. O desemprego em massa também fez com que diversos setores fechassem as portas para pessoas com pouca experiência. Julia afirma que esse será um dos pontos debatidos por ela dentro do Conselho. “É gritante como a falta de oportunidade ou as condições precárias de trabalho fazem com que nossa juventude esteja ainda mais vulnerável. Esses são os processos que logo nas primeiras reuniões terão de ser colocadas e vamos fazer essa incidência junto ao plano de governo de Tarcísio e na Assembleia Legislativa”.

A conselheira eleita salienta sobre não perder de vista o movimento e a coletividade que a elegeu. “Vamos rodar por núcleos da Uneafro Brasil e de outras coletividades de juventude no Estado, acompanhar a realidade que, inclusive, é possível que não conheçamos e levar com muita seriedade as demandas de agora das nossas juventudes. É urgente falar e pensar em políticas públicas para resolver a letalidade da polícia e que a saúde pública fortaleça políticas de redução de danos”, argumenta a conselheira.

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