A tragédia dentro da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda-feira, 23 de outubro de 2023, é mais um terrível episódio que interrompe os sonhos de jovens periféricos do Brasil. O ataque armado feito por um estudante de 16 anos, que tirou a vida de uma aluna de 17 anos e feriu 3 jovens da escola, é o retrato do incentivo que setores da extrema-direita do país fazem para uma sociedade armamentista e ainda mais violenta. Adolescentes não devem ter acesso a armas, mecanismos que são feitos, exclusivamente, para matar.

A cada violência que estudantes, professores e funcionários sofrem, os governantes respondem com propostas militarizadas, como a presença da Polícia Militar dentro e fora do ambiente escolar. Salas de aula lotadas, docentes sobrecarregados, falta de serviços sociais, falta de funcionários de apoio, como inspetores de aluno e agentes de portaria, são problemas muito mais urgentes a serem resolvidos.

Há falta de estrutura no atendimento e acolhida dos jovens nas suas demandas mais básicas. Não há espaço físico adequado nem incentivo institucional para a arte, cultura e práticas esportivas integradas a outros atores dos territórios. Isso poderia regular conflitos e criar outras formas de conviver na escola e além dela.

Além disso, o jovem que entrou armado na Escola Estadual Sapopemba, segundo seu advogado, sofria bullying por ser homossexual e a escola nada fez, apesar de ser informada. Essa é uma história que se repete em diversas escolas pelo Brasil e retrata como a cultura machista, misógina e LGBTfóbica, que sempre existiu em nosso país, teve uma exacerbação grande nos últimos quatro anos.

É certo também que há uma tentativa de censura por parte do governo estadual ao excluir do currículo escolar os assuntos que abordem a diversidade sexual, construção de identidade, afetos e respeito às trajetórias de cada aluno. De modo geral, muitos professores também não estão preparados para tratar do tema, alguns sendo entusiastas do combate à falaciosa “ideologia de gênero”. A escola, que deveria acolher e informar, acaba por ser o espaço onde ocorrem as primeiras violências.

É urgente a implementação de uma rede pública de atenção psicológica que entenda as pluralidades da juventude nas escolas. Vale ressaltar que o governo de Tarcísio de Freitas vetou o Projeto de Lei que incluía o atendimento de profissionais da psicologia nas escolas públicas, espaços que também contavam com a mediação de conflitos, serviços executados por profissionais da educação habilitados e dedicados à resolução informal de atritos e outras questões envolvendo estudantes. Enfim, mais um serviço dissolvido pelo governo do estado.

Em 2023, o mundo convive com diversas guerras. As explícitas e amplamente divulgadas, como os conflitos na Palestina e na Ucrânia, mas também guerras veladas, como conflitos no continente africano e as guerras travadas nas periferias do Brasil, como a guerra às drogas, a criminalização da pobreza, as chacinas e os extermínios promovidos pelo Estado e outros poderes. 

O povo brasileiro não pode arcar com as inconsequências sequer de uma atmosfera social que aponte o armamentismo como uma cultura nacional. A Uneafro Brasil presta toda solidariedade às vítimas e seus familiares.

 

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