Por Jéssica Ferreira e Caio Chagas

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2019 terá aplicação das provas nos dias 3 e 11 de novembro e os participantes já possuem acesso ao local de realização do exame. A edição conta com 5.095.208 inscritos confirmados, e o registro aponta a mais baixa adesão de inscritos nos últimos nove anos.

Com 58,7% dos inscritos formados no ensino médio, 87,5% (4,4 milhões) poderão tentar ingresso no ensino superior em 2020. O relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) registra também que, em relação à 2018, aumentou a taxa de pagantes e diminuiu a de isentos. Ainda assim, 58,5% (2.980.502) dos inscritos é isento de taxa, enquanto os pagantes representam 41,5% (3.404.455).

As mulheres seguem sendo maioria entre os inscritos no ENEM, sendo 59,5% dos confirmados. Já em relação à cor declarada, 46,4% se autodeclararam pardos, 36%, brancos e 12,7% pretos, lembrando que segundo o IBGE pretos e pardos somam o contingente populacional negro no país. Na faixa etária, 26,7% tem de 21 a 30 anos, 17,8% tem 17 anos e 15,9% tem 18 anos.

O exame é organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e foi idealizado em 1998 pela ex-presidente Maria Inês Fini. No início, a prova tinha por premissa avaliar o desempenho de alunos do ensino médio para formulações de agendas políticas junto ao Ministério da Educação.

Só por volta dos anos 2000 que torna-se programa de inclusão educacional para as universidades. Um ano depois, instituiu-se a isenção de taxa de cobrança das provas, mecanismo importante para assegurar a democratização do processo. Durante os anos seguintes, o ENEM consolida-se como o maior mecanismo de acesso ao ensino superior no país, pelo SISU e o Programa Universidade para Todos (ProUni).

O conteúdo das provas é o que mais aflige os pré-vestibulandos. A nova gestão do Ministério da Educação reiterou que a edição deste ano não terá questões classificadas como “ideológicas”, ou seja, aprofundamento em debates de classe, gênero e raça.

Segundo pronunciamento do Ministro da educação Abraham Weintraub  a respeito das mudanças do ENEM, a objetividade promete ser condição imprescindível para a formulação das questões, no intuito de selecionar estudantes pelo conhecimento’ “conteudistas”.

Thais Santos Silva, coordenadora do cursinho Uneafro, reitera que “essa pedagogia tecnicista inviabiliza a formação da cidadania consciente e ativa que nós, professores da educação popular, priorizamos.”

Além disso, José Henrique Viégas Lemos, conhecido como Zé Henrique, também coordenador do cursinho Uneafro, reforça que: “o discurso de neutralidade pode convencer setores da juventude, caso não estejam preparados para compreender o funcionamento da sociedade e os interesses que estão em jogo”.

Pelo movimento de contranarrativa, os cursinhos populares constroem ambientes onde os jovens possam apreender as complexidades das relações sociais estabelecidas.

Débora Dias, ex aluna da Uneafro, que agora cursa Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo fala sobre o impacto do cursinho popular em sua trajetória. “Ele cumpriu papel extremamente importante na minha formação acadêmica, foi lá que, além das matérias do vestibular, eu tive a chance de reconstruir minha identidade enquanto mulher negra, periférica e lésbica”.

A coordenadora Thais Santos reitera “na educação popular valoriza-se a construção crítica do indivíduo, sua identidade social dentro de um contexto histórico e territorial. Não é só possibilitar o acesso às universidades, é reitera-lo do seu direito à educação de qualidade que por inúmeras vezes é negligenciado nas escolas públicas”.

Essa afirmação estabelece um diálogo com Débora que ao entrar no ensino superior compreendeu a dimensão da estrutura oferecida pelos cursinhos populares. “Na Uneafro aprendi que era importante passar no vestibular, mas para além disso, aprendi a importância de resistir dentro da faculdade. A maior importância do cursinho popular, com toda certeza, é o trabalho de base e o apoio que recebemos. Assim conseguimos persistir”.

Em relação ao posicionamento do MEC, Thais Santos enxerga que “as medidas governamentais de alienação em massa são embates recorrentes dentro das organizações sociais. (…) em nada modifica nossos métodos de estudo que estão baseados na autonomia e construção plural de visões de mundo. É um equívoco sistêmico e intencional questionar técnicas sem relacioná-las com as práticas sociais do cotidiano, erroneamente entendidas pelo ministro como ‘questões ideológicas’” explica.

Ainda que o Enem tenha ampliado o alcance possibilitando aos jovens periféricos ingressarem em maior número no ensino superior, existem muitas dificuldades para estes estudantes acessarem o espaço acadêmico, como expõe Thais: “Esse cenário tende a desestimular o jovem periférico a ingressar nas universidades públicas sob ameaças de cortes em setores básicos para manutenção de sua vida acadêmica (bolsas, moradia, bandejões, etc).” A coordenadora completa que ainda existe uma falsa facilidade de acesso nas universidades privadas. “Associado a essa política está um mercado emergente de faculdades privadas recheadas de facilidades questionáveis a longo prazo”  enfatiza Thais.

 Zé Henrique salienta “deliberadamente o governo seleciona quem presta o vestibular e quem ingressa nas universidades, e isto é feito através dos valores da inscrição, preços das passagens e dificuldades outras para frequentar as aulas (cansaço físico e mental, desemprego, etc).

As dificuldades já se iniciam no processo de preparação para as provas, como  destaca a estudante do cursinho da Uneafro Letícia de Oliveira Caetano “minha rotina é sempre alterada, pois como estudo no quarto e durmo com meu irmão, dependo do horário dele do trabalho, sendo que ele trabalha mudando de horário de 15 em 15 dias. Às vezes estudo de manhã, às vezes de tarde ou até mesmo de madrugada”.

Entendendo esse processo, Zé Henrique conta que “os professores e coordenação, antes do ano letivo, reúnem-se para discutir aspectos pedagógicos e de distribuição do conteúdo programático com orientação e alinhados ao planejamento geral da Uneafro, democraticamente discutido em reuniões periódicas. Procuramos despertar através da apresentação das diferentes disciplinas o senso crítico dos/as nossos/as aluno/as.”

O estudante Daniel Santos Sousa, 18 anos, prestará o ENEM pela primeira vez esse ano. Morador do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, destacou as dificuldades de ter que trabalhar e estudar “o único dia que me sobra é o sábado, vou para o cursinho e estudo quando chego”. O estudante, que trabalha como revisor processual, sonha em entrar em um curso de Direito da USP.

A importância da Uneafro nos estudos dele é muito grande “pelo incentivo, pelo apoio, pelo esforço que os professores têm conosco” afirma. “Nos dando todo um suporte para poder entrar na faculdade, desenvolver o pensamento crítico”. Daniel se diz pouco preocupado com o ENEM desse ano, “é muito bom saber que a gente tem o cursinho, que os professores vão nos ajudar, fico até mais calmo por saber que tem pessoas que estão me apoiando”. 

Simulados

Pensando em otimizar o aprendizado dos estudantes, a Uneafro desenvolveu simulados para que eles possam exercitar os conhecimentos acumulados.  “Os simulados são fundamentais porque além de mostrar o formato da prova, os conteúdos recorrentes e o preenchimento adequado do gabarito, também são  importantes para prepará-los emocional e fisicamente.” disse a coordenadora Thais.

Nessa reta final, com o objetivo de unificar as informações dos educandos da rede Uneafro foi organizado um simulado integrado, acontecendo no mesmo dia para todas as sedes que compõem a rede. As questões escolhidas para compor o simulado foram formuladas com base nas provas dos últimos 10 anos que, segundo informações do INEP, obtiveram margens de acerto acima de 20% no grupo amostra do ano de referência, explicou Thais.

Simulado Enem

Estudantes do Núcleo Ilda Martins e Angela Davis realizando o Simulado do Enem. Foto de Adriano Sousa.

 

A TV Uneafro acompanhou a realização de um simulado no Núcleo Rosa Parks, localizado em São Mateus , zona leste da capital paulista em julho deste ano.

 

Confira algumas dicas para se dar bem no ENEM

 Esteja atento às regras do exame

  • Leve caneta esferográfica preta com o corpo transparente (de preferência mais de uma).
  • Durante o exame não utilize relógios, calculadoras, fones de ouvido, celulares e demais objetos eletrônicos.
  • Jamais tire fotos do conteúdo, a publicação e veiculação do mesmo em redes sociais configura desclassificação.
  • Pesquise com antecedência o local estabelecido para o seu teste. Se possível visite-o antes do ENEM.
  • Fique atento ao horário da prova. Os portões fecham às 13h pontualmente e não permitem a entrada de nenhum estudante após o horário estabelecido.

Cuidado com a alimentação
Nos dias que antecedem a prova procure comer alimentos leves e beber bastante água. No dia do exame procure levar água, sucos naturais, frutas para poder se alimentar. O chocolate é muito bem-vindo para controlar o estresse.

Utilize roupas confortáveis
O ENEM é um exame que merece muita atenção, roupas desconfortáveis podem desconcentrar ou causar incômodo durante a execução da prova. São proibidos a utilização de bonés, gorros e toucas.

A fixação de conteúdo é um processo gradativo
Ninguém nasce sabendo de tudo. O processo do aprendizado depende da leitura, reflexão e prática. Procure estudar ao longo do ano, absorva o conteúdo com calma, faça resumos, pesquise opiniões diferentes sobre o assunto. Programe uma rotina de estudos e dedique um tempo ao longo de seu dia apenas para isso. 

Não exagere na véspera
As provas são cansativas mental e fisicamente. Suas 180 questões requerem atenção e cuidado redobrado, por isso, descansar bem no dia anterior é fundamental para a concentração e bem estar na hora do exame.

 

Fonte: ENEM Virtual

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