JORNAL DA UNEAFRO BRASIL
NÚMERO 26 | JANEIRO/FEVEREIRO DE 2022
Audiência no Senado debate violência contra imigrantes e caso Moïse
Por: Caio Chagas
A vereadora Tainá de Paula, Djodjo Kabagambe e Yannick Kamanda durante a Audiência Pública no Senado Foto: Reprodução Instagram
Na manhã de 8 de fevereiro, a Coalizão Negra Por Direitos participou da Audiência Pública “Violência contra migrantes e refugiados no Brasil e o caso Moïse” no Senado Federal. As discussões fizeram parte da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e da Comissão Mista Permanente Sobre Migrações Internacionais e Refugiados (CMMIR), sendo feitas de forma híbrida.
A condução da reunião ficou por conta do Senador Humberto Costa (PT-PE), Presidente da CDH, e do Senador Paulo Paim (PT-RS), Presidente da CMMIR. Em sua fala de abertura, Humberto Costa destacou a importância da Audiência: “Nos últimos anos, milhares de pessoas saíram de sua terra de origem para escapar de condições precárias e vieram para o Brasil. Todavia, o país que era referência de acolhimento se mostrou palco de recorrentes ações contra imigrantes, sobretudo os negros”.
Em seguida, Lucas Santos Fernandes, Procurador do Trabalho e Representante do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT), apresentou as condições de exploração que vivem os imigrantes e refugiados no país. “O Brasil virou um país de bicos após uma lamentável reforma trabalhista”. Lucas Fernandes ainda pontuou o racismo como agravante da violência. “Moïse tem a cor da pele que atrai o ódio e a xenofobia dos racistas no Brasil. Não podemos ver os imigrantes como concorrentes, mas sim como pessoas como nós. Essa é uma luta de todos”, finalizou.
Henrique Salles, Consultor Legislativo do Senado, apresentou dados do relatório de pesquisa “Os visíveis e invisíveis da fronteira: um estudo de caso – Segurança Alimentar e Nutricional”, que revelou a fome como um dos principais motivos de deslocamento de pessoas refugiadas para o Brasil.
Dentre os dados analisados, destaca-se que a situação de segurança alimentar e nutricional pode se tornar alta em zonas de fronteira, sobretudo no contexto da pandemia da covid-19. Como analisada no estudo de caso feito em Santana do Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, onde 80% das pessoas entrevistadas passavam por algum tipo de insegurança alimentar e nutricional. No Oiapoque, que faz fronteira com a Guiana Francesa, o número de migrantes internacionais ou regionais com insegurança alimentar subiu para 96%.
Representando a Coalizão Negra Por Direitos, a vereadora carioca Tainá de Paula (PT-RJ) reforçou a situação desumana na qual pessoas negras, brasileiras e refugiadas vivem historicamente no Rio de Janeiro. “Somos o estado que mais mata jovens e crianças de 6 a 19 anos no mundo. Não há uma exceção à regra, como no caso de Moïse, que acaba sendo considerado praticamente banal em virtude da ausência do debate racial dessas mortes”.
Para ela, o Brasil deveria ter um papel de responsabilidade pública no tratamento do racismo. “Passamos por Durban, Genebra e temos responsabilidade por toda pessoa negra que chega nesse país. Nós nos beneficiamos economicamente desses tratados e temos contrapartidas, dar conta desses processos migratórios”, afirma Tainá. “Deveria ser inegociável a responsabilização dos nossos órgãos e dos nossos chefes de estado, mas só tivemos o silêncio das autoridades e de Jair Bolsonaro”.
VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
No sábado, 24 de janeiro, Moïse Mugenyi Kabagambe, jovem congolês de 24 anos, foi espancado e brutalmente assassinado por 3 homens em frente ao quiosque em que trabalhava informalmente, na Barra da Tijuca, Zona Sul do Rio de Janeiro. Organizações que compõem a Coalizão Negra Por Direitos ocuparam as ruas de 12 capitais brasileiras, nos EUA, Inglaterra e Alemanha em protestos, pedindo justiça para Moïse.
“O Brasil não tem conseguido estabelecer o respeito aos refugiados e aos imigrantes como se diz a lei”, ressaltou José Carlos Dias, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, durante a Audiência no Senado, sobre a ausência de resposta do Estado brasileiro sobre a violência contra o congolês. “O negro é visto como descartável, vivemos em uma falsa democracia racial. A família de Moïse veio em busca de segurança e encontrou barbárie”, encerrou.
Djodjo Kabagambe, irmão do Moïse, mostrou preocupação com a falta de responsabilização de todos os culpados pela morte no quiosque. “Nós, familiares, estamos pedindo mais justiça pelo nosso irmão. Existem mais pessoas que participaram do espancamento e que não estão presas. Queremos que a polícia libere o vídeo na íntegra e sem edições”, alertou.
O final da sessão foi marcado por um discurso do Senador Paulo Paim (PT-RS) sobre o caso. “Quantos brasileiros são migrantes no mundo? Nós não gostaríamos que eles fossem tratados com carinho e respeito? As políticas humanitárias precisam avançar no Brasil e no mundo. Essa luta há de continuar”.
A Uneafro Brasil abre 1800 vagas para o cursinho popular pré-vestibular em 2022. As vagas são direcionadas aos 40 Núcleos físicos localizados em São Paulo e no Rio de Janeiro e também para todo o Brasil através do Núcleo Virtual, as inscrições podem ser feitas em nosso site até março.
Em seus 13 anos de atuação, a Uneafro Brasil construiu uma rede de cursinhos que auxiliou mais de 15 mil estudantes a ficarem mais próximos de adentrar a universidade, concursos e oportunidades de trabalho.
Através da ação direta e comunitária, leva esperança e conhecimento para a juventude negra e periférica em aulas totalmente gratuitas. Nossa missão é tirar o corpo negro e periférico da linha do tiro, da fila do hospital, dos números da estatística. Escolhemos enfrentar o racismo, o genocídio, o machismo e as desigualdades econômicas através da ação direta na vida real das pessoas, em nossas próprias comunidades.
Já ouviu falar do Pacote do Veneno? É um Projeto de Lei (6.299/2002) que facilita o uso indiscriminado do agrotóxico pelo agronegócio. Ou seja, mais veneno no prato e no solo.
Esse projeto, que estava em tramitação há 20 anos, foi aprovado na surdina pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (9), por 301 a 150 votos.
E aí, a gente esbarra num assunto MUITO urgente: nutricídio e fome! Os agrotóxicos, produtos transgênicos e ultraprocessados se caracterizam como a principal causa do nutricídio que afeta, em sua maioria, a população negra, pobre, nordestina e de baixa escolaridade no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Bom, com a aprovação desse PL pelo Senado, nós já sabemos quem sofrerá as consequências dessa decisão.
O avanço da fome não se esconde! É metade da população em situação de insegurança alimentar em algum grau no país que mais utiliza agrotóxicos no mundo.
Diga #NãoAoPacoteDoVeneno!
#VisibilidadeTrans
No dia 29 de janeiro é comemorado nacionalmente o Dia da Visibilidade Trans. Mas você sabe o porquê?
Em 29 de janeiro de 2004, pessoas trans e travestis foram a Brasília lançar a campanha “Travesti de respeito” em busca de visibilidade, cidadania e a preservação das vidas.
O Brasil segue há 13 anos consecutivos sendo o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Segundo o relatório da ANTRA, São Paulo é o estado do país com o maior número de assassinatos registrados. Precisamos mudar essa realidade. Veja alguns dados sobre a realidade vivida por essas pessoas.
Pelo 13º ano consecutivo, o Brasil é líder no assassinato de pessoas Trans.
140 assassinatos de pessoas trans, sendo 135 travestis e mulheres transexuais, e 5 casos de homens trans e pessoas transmasculinas em 2021.
Assassinatos de pessoas trans no Brasil entre 2008 e 2021
Entre 2017 e 2021, tivemos 781 assassinatos de pessoas trans brasileiras. No ranking por estado, levando em consideração dados absolutos, São Paulo, com 105 casos, aparece em 1º lugar.
Autora: BENEVIDES, Bruna, 2022.
Estados que mais assassinaram pessoas trans (2017-2021)
Autora: BENEVIDES, Bruna, 2022.
Perfil das vítimas por raça e etnia
Autora: BENEVIDES, Bruna, 2022.
Homens trans e pessoas transmasculinas também menstruam
A invisibilização de pessoas trans com vagina reflete dificuldade de atendimento ginecológico e despreparo de profissionais da saúde
Um levantamento feito pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) mostra que estudantes transexuais representam só 0,1% do total dos alunos de universidades federais no Brasil.
Um dossiê da ANTRA de 2019 aponta que 90% da população de transexuais e travestis tem a prostituição como principal fonte de renta, apenas 4% da população trans feminina se encontra em empregos formais.
“Um corpo trans não é invisível, é um corpo invisibilizado. Quando esse corpo aparece, a violência também se faz presente.”
Bruna Benevides – Secretária de Articulação Política da ANTRA
Fonte: Dossiê – Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2021/ ANTRA – Bruna Benevides
Núcleo Obará reforça a importância do “Janeiro Branco” e abre inscrições para novos profissionais
Culturalmente, em janeiro, as pessoas são convidadas a refletir sobre suas vidas, criam planos e metas para o que farão durante o novo ano que chega. Mas, para muitos psicólogos, o mês de janeiro pode ser um importante aliado para os cuidados da saúde mental. Pensando nisso, organizações criaram a campanha “Janeiro Branco”, com o objetivo de mobilizar a sociedade em prol da saúde mental e emocional da população.
Cátia Cipriano, coordenadora do Núcleo Obará, reforçou a importância do Janeiro Branco. “Iniciar o ano consciente de que precisamos cuidar do corpo é algo que as pessoas fazem todo início de um novo ciclo, cuidar melhor da saúde física, como praticar esportes, melhorar a alimentação, ser mais saudável e ampliar o cuidado com sua mente é o principal, é uma maneira de começar o ano com um propósito mais elevado”, pontuou.
O Núcleo Obará da Uneafro Brasil surgiu em 2019 com o intuito de trazer os debates do autocuidado para os militantes do movimento negro. Hoje, tem como premissa o cuidado do corpo, mente e alma através da psicoterapia e da Política Nacional de Práticas de Saúde Integrativas e Complementares, utilizando recursos terapêuticos na prevenção de doenças e na recuperação da saúde e bem-estar. Oferecendo atendimento psicológico e holístico, com terapias como: reiki, radiestesia, leitura de tarot, leitura de mapa astral, massagem ayurvédica e terapia floral.
Uma publicação da Organização Pan-americana de Saúde da OMS, de novembro de 2021, mostrou o efeito devastador que a covid-19 teve na saúde mental no continente americano. O relatório mostra que 4 em cada 10 brasileiros foram diagnosticados com ansiedade. “Muita gente adoeceu psiquicamente, ou piorou seu quadro de desequilíbrio emocional durante a pandemia, e o Núcleo tem sido um espaço importante para muitos de nós. Esse trabalho tem sido considerado um salva-vidas”, reforçou Cátia sobre a importância de levar autocuidado para dentro do movimento.
Ainda há uma resistência muito grande por parte da população em procurar atendimento especializado para tratar o tema, mas a principal questão é a falta de acesso de grande parte da população a esse tipo de serviço. Mesmo sendo oferecida no SUS, o atendimento psicológico tem filas de espera muito grandes devido à falta de investimento de recursos. Para Juliana, terapeuta do Núcleo Obará, o Núcleo tem conseguido conscientizar os militantes sobre a importância de cuidarem da mente. “Ainda é bem gradativo, mas consigo perceber maior preocupação dos jovens, porém, há uma movimentação de todes, seja por questões pessoais ou de colegas. Acredito também que o momento pandêmico despertou, junto à vinda do Obará, um olhar mais atencioso à saúde mental dentro da Uneafro”.
Para conseguir mais pessoas, o Núcleo segue buscando novos voluntários para realizar atendimentos psicológicos e terapêuticos. “Este ano, pretendemos oferecer mais cuidados voltados à saúde, com o objetivo de aproximar mais profissionais da medicina tradicional, além de manter também os cuidados complementares, trazendo a medicina chinesa para as atividades do Núcleo, assim como os cuidados ancestrais”, finalizou Juliana.
Ato #JustiçaPorMoïse
A Uneafro Brasil esteve presente no ato #JustiçaPorMoïse em São Paulo e no Rio de Janeiro. Basta de genocídio!
Fotos: Phelipe Nunes / Julia Matos / Rodrigo Garcia / Victoria Santos / TV Uneafro / Uneafro Rio
Você é professor ou aluno da UNEafro, é da quebrada, curte e faz arte negra e periférica? Dê um salve!
Mande um e-mail para [email protected] e mande seu trabalho aqui para toda a nossa comunidade ver!
Núcleo Virtual
Para tentar atender nossos alunos durante a pandemia, a UNEafro está lançando um Núcleo Virtual que deve começar suas atividades na primeira semana de junho.
Professores de diversos núcleos se juntaram para produzir material e ajudar os alunos nas atividades em um espaço virtual.
Enquanto seguimos tentando adiar o ENEM, fazemos também o possível para preparar os alunos de ensino médio nas periferias.
Colabore Conosco
A principal missão da UNEafro é tirar o corpo negro e pobre da linha do tiro, do contingente encarcerado pelo estado, da fila do hospital e dos números das estatísticas da violência. Para isso, desenvolve ações que buscam oferecer oportunidades de estudo e trabalho em comunidades negras e pobres.
Você pode fazer parte e ser responsável por esse importante trabalho. Doe!
Banco do Brasil
Agência: 4054-1 | CC: 285.078-8
Em nome do Instituto de Referência Negra Peregum
CNPJ: 11.140.583/0001-72
Expediente: Edição: Caio Chagas, Jéssica Ferreira | Diagramação: Gabriela Bosshard | Revisão: Renata Toni | Contato: [email protected]