A Uneafro Brasil, organização do movimento negro brasileiro que há mais de uma década atua pela educação, por direitos e pela defesa do povo negro, decidiu cancelar a exposição em comemoração ao mês da consciência negra e em homenagem aos seus 12 anos que estaria em cartaz nas estações São Paulo-Morumbi e Oscar Freire da Linha 4 Amarela, administrada pela ViaQuatro, na capital paulista, a partir do dia 1.o de novembro de 2021. A decisão foi motivada após um jovem negro de 21 anos, vendedor ambulante, ser agredido de forma brutal por agentes de segurança da estação Anhangabaú, administrada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô, no dia 21 de outubro.

As imagens de imobilização, sufocamento e muita truculência foram feitas pelo celular de uma mulher que suplicava aos seguranças que não o matassem em frente ao seu filho, um bebê que chorava muito no carrinho. 

Em um relato indignado nas redes sociais, a dona dos registros contou que o jovem foi xingado pelos agentes e, ao descer as escadarias da estação para ir embora, foi empurrado, por isso reagiu cuspindo em quem já o violentava verbal, moral e fisicamente. Bastou uma reação para que a resposta fosse ainda mais agressiva.

Casos como esse acontecem frequentemente no sistema metroferroviário. Ainda que as linhas atravessem principalmente lugares onde vivem a população branca e rica da cidade, os alvos da violência são sempre corpos negros ou de trabalhadoras e trabalhadores informais. 

Vale lembrar que o racismo que motiva e naturaliza essa violência estrutura o Estado, mas não se restringe a ele. Sendo assim, se manifesta também nas estações das linhas privatizadas – até porque estamos falando de um sistema interligado -, o que iguala, desqualifica e requer medidas eficazes de ambas as formas de gestão para que casos como esse não se repitam. 

A própria organização do sistema metroviário já segue a lógica racista que organiza nossas cidades, uma vez que sua implantação intensifica a concentração de investimentos em determinados territórios e frequentemente remove, sem compensação adequada, a população negra que ali vivia, sem sequer indenizá-la adequadamente.

Lamentavelmente, não vimos manifestações de repúdio às ações dos seguranças do Metrô por parte de expressões públicas dos sindicatos, movimentos e ou partidos da esquerda.

Causou-nos repulsa e indignação a defesa desta violência por parte da organização sindical dos agressores, que utilizaram os mesmos argumentos que o Estado genocida, via forças policiais, para violentar, agredir e assassinar pessoas pobres e negras.

Acreditamos que a naturalização da violência por parte do Estado racista branco encontra seus correspondentes na segurança e vigilância patrimonial pública e privada.

Se para a população preta, pobre e periférica em geral ainda é impossível boicotar as catracas, uma vez que ela é vítima de forte segregacão territorial e espoliação urbana, resta à Uneafro Brasil não contribuir para manifestações marqueteiras que tentam promover uma falsa imagem de um sistema viário antirracista.

Em solidariedade a todas as vítimas dessa violência, a exposição está cancelada.

 

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