Movimento Negro de Campina Grande lança Manifesto em Defesa das Cotas Raciais para Negros, Ciganos e Índios na Universidade Estadual da Paraíba
Ana Lúcia Sales/Movimento Negro da Paraíba – Enviado a equipe de comunicação da ABPN
Defendemos a ideia de que o estado da Paraíba jamais será um lugar desenvolvido, caso ele não inclua as populações negras, indígenas e ciganas como prioridade em qualquer projeto educacional, social e econômico em matéria de políticas públicas ou acadêmicas. A UEPB, na nossa concepção, poderia ajudar a fazer desse estado racista um lugar mais democrático e com mais cidadania plena para todos os grupos étnicos citados neste manifesto.
No entanto, como essa universidade não tem cotas raciais para os estudantes negros, indígenas e ciganos, percebe-se claramente que esse modelo acadêmico é profundamente excludente, racista, injusto e promotor de desigualdades pelo fato de não ter qualquer política afirmativa para incluir os estudantes negros, ciganos e indígenas na graduação e pós- graduação, embora tenha implantado cotas para alunos das escolas públicas no intuito de ser mais justa socialmente.
Pedimos, portanto, a ADUEPB e REITORIA para que possam reabrir essa discussão mais do que justa sobre cotas raciais chamando os NEABÍ´s, DCE e SINTESPB\ UEPB, bem como as entidades do movimento negro paraibano, indígenas e ciganos que são os maiores interessados nesse assunto para que juntos possamos pensar numa universidade mais inclusiva, democrática, afirmativa e diversa culturalmente e etnicamente.
Solicitamos, diante deste contexto, para que os professores, estudantes e servidores técnicos da UEPB debatam sobre essa questão racial de forma urgente, visto que enquanto estamos aqui pedindo esse debate dezenas de jovens negros morrem todos os dias nas periferias paraibanas, geralmente por causa da ausência do Estado brasileiro que historicamente sempre negou para essa mesma juventude afrodescendente o acesso à saúde, ao trabalho, educação de qualidade, arte e cultura.
Não é por acaso que, o nosso estado paraibano aparece vergonhosamente como sendo um dos lugares onde ocorrem mais mortes de jovens negros, entre 15 e 29 anos de idade. Só em João Pessoa, para cada jovem branco que morre de forma violenta, são assassinados 29 jovens negros. Campina Grande, nesse cenário de horror, também não fica em posição confortável, uma vez que ela surge como a vigésima sexta cidade do Brasil onde se mata mais jovens negros, segundo dados do Data-SUS do Ministério da Saúde. Como falar em desenvolvimento econômico e educacional na Paraíba com esse genocídio vergonhoso e inaceitável da juventude negra?
Ora, enquanto universidade pública, a UEPB era para se preocupar com a implantação de ações afirmativas voltadas para o combate ao racismo estrutural. Para tanto, ela poderia aproveitar a experiência de luta do movimento negro paraibano, bem como dos povos indígenas e ciganos para que juntos possamos pensar na construção imediata de um vigoroso projeto de inclusão social e educacional para jovens negros, ciganos e indígenas na UEPB, objetivando com isto a valorização desses sujeitos sociais que precisam de um espaço de empoderamento, crescimento social e econômico como de fato a universidade pode propiciar na vida de qualquer cidadão que queira vencer na vida através dos estudos.
Não podemos, doravante, mais aceitar que uma universidade tão estratégica como essa para o desenvolvimento do estado da Paraíba seja ao mesmo tempo um espaço tradicionalmente dominado de forma cínica e hipócrita por uma minoria de brancos de classe média em todos os seus setores de produção do conhecimento. Não podemos aceitar mesmo! Pois essa realidade racial e conservadora, marcada por uma profunda desigualdade racial não se sustenta moralmente nem na África do Sul onde vigorou até pouco tempo as leis do Apartheid, diga- se a bem da verdade.
A UEPB está localizada num estado onde segundo dados do IBGE, negros e pardos somam mais de 63,3% do povo paraibano. Portanto, quem quiser falar no papel da universidade nesse debate sobre o desenvolvimento econômico e educacional da Paraíba precisa levar em consideração as necessidades sociais da maioria de sua população de origem africana. Precisa começar, também, a colocar negros e negras das comunidades quilombolas, dos terreiros de umbanda e candomblé na mesa desse debate para torná-la mais plural para que a discussão acadêmica e política que envolve os governantes fique mais arejada do ponto racial e da boa democracia representativa e participativa. Depois, é sentar todo mundo na mesa do CONSEPE, CONSUNI e fazer uma pergunta óbvia para a comunidade acadêmica: Por que há tão poucos negros e índios estudando e lecionando na UEPB?
Por fim, sempre é bom lembrar que grandes universidades como a USP tem cotas raciais, assim como a UNICAMP, UFRJ, UERJ, UNB, UFBA, UFRB, UNEB e tantas outras universidades estaduais e federais. Por que a nossa Universidade Estadual da Paraíba não tem? Essa é a pergunta que devemos fazer também para o DCE, Reitoria e todos os segmentos representativos do corpo discente como os Centros Acadêmicos. Enquanto a UEPB não tem cotas para a nossa população negra e outros segmentos étnicos, infelizmente, todos os dias corpos de jovens negros empobrecidos são assassinados sob os olhos omissos do poder público na Paraíba. Com a palavra, os quase 100% de brancos que estudam e lecionam na Universidade Estadual da Paraíba.
ASSINE O ABAIXO-ASSINADO: https://www.change.org/p/o-consuni-da-universidade-estadual-da-para%C3%ADba-cotas-raciais-para-negros-%C3%ADndios-quilombolas-e-ciganos-na-uepb