Organizações do movimento negro construíram um forte posicionamento sobre a grave crise ambiental enfrentada pelo Rio Grande do Sul. A nota divulgada neste 13 de maio de 2024, dia que marca os 136 anos da abolição da escravatura no país, foi assinada pela UNEafro Brasil, Movimento Negro Unificado (MNU), Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, Instituto TEBAS, SOWETO Organização Negra, Vereador Paulo Reis, UNANCA – União da Capela dos Aflitos, CONEN – Coordenação de Entidades Negras, Escola de Samba “Fala Negão – Fala Mulher”, Mandato Quilombo Periférico, Mandato Bancada Feminista do PSOL e Casa Luiz Gama, e coloca o racismo ambiental como a causa central de catástrofes dessa natureza.
“Apontamos que a lógica colonial não cessou e que o racismo ambiental é uma realidade no Brasil e no mundo que agencia a crise climática, fazendo da população negra, quilombola e indígena suas maiores vítimas”, diz um trecho. Outro ponto fala que “o racismo ambiental não é gerado apenas através de ações que, exclusivamente, tenham uma intenção racista. Trata-se do impacto “racial” que as tragédias-crime geram (…) afetando, sobretudo, aqueles que, historicamente, têm falta de acesso a serviços básicos, como moradia segura, água potável e saneamento básico”.
As fortes chuvas que alagaram mais de 400 municípios do RS a partir de 27 de abril, deixaram centenas de mortos e mais de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas, famintas e sem acesso à água e energia, foram previstas uma semana antes por institutos meteorológicos. No entanto, seus relatórios foram negligenciados pelo poder público. As consequências para a região são sem precedentes e perduram ainda por tempo indeterminado.
Segundo o Ministério da Igualdade Racial, o estado tem mais de 7 mil famílias quilombolas e aproximadamente 1300 famílias de comunidades tradicionais de matriz africana e terreiros. Muitas delas estão ilhadas, sem acesso à comida. Um levantamento colaborativo entre organizações como Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul e Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi/RS) contabilizou mais de 80 territórios indígenas diretamente afetados pela catástrofe, impactando a vida de cerca de 8 mil pessoas.
Marcha Noturna pela Verdadeira Democracia Racial
O dia 13 de maio é também marcado pela tradicional Marcha Noturna Pela Democracia Racial. A 28ª edição denuncia, como em todos os anos, as diversas formas de violações de direitos pelas quais a população negra e em diáspora vem sendo submetida. A saída da marcha será a partir das 18h30, na Praça da Liberdade, em São Paulo.
A partir das 17h, na concentração do ato, será realizada a aula pública “Crise Climática, Racismo Ambiental e a Falsa Abolição”, conduzida pela coordenadora de formação do MNU em SP, Regina Lúcia, e pela coordenadora da área de resistência ao racismo ambiental do Instituto de Referência Negra Peregum, Maíra Silva.