Em 2019 a Uneafro completou 10 de anos de construção coletiva possibilitada pelo voluntariado de 350 de professores dentre os 35 núcleos de educação espalhados pelos territórios periféricos de São Paulo e Rio de Janeiro. Aproximadamente 15 mil jovens que passaram pelo projeto ampliaram suas possibilidades de ingressar no ensino superior.
Tudo isso começou quando cerca de 100 jovens estudantes e ativistas reuniram-se em frente ao prédio da Faculdade de Medicina da USP, no dia 05 de março de 2009 para um ato político e simbólico denunciando a ausência de pessoas negras na instituição. Durante o ato, os manifestantes bloquearam a avenida Doutor Arnaldo e seguiram até Avenida Paulista, até a altura do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e fizeram a fundação da União de Núcleos de Educação Popular Para Negrxs e Classe Trabalhadora, a Uneafro Brasil. O programa tem como propósito a articulação e formação de jovens e adultos moradores de regiões periféricas do Brasil organizados núcleos de cursinhos pré-vestibulinhos, pré-vestibulares, pré-concursos, formação para o mercado de trabalho, cursos de formação política, de gênero, antirracista, diversidade sexual, combate às drogas e aperfeiçoamento jurídico.
Gente que faz
Mônica Silva Dias, é professora do Núcleo Tia Jura em São Bernardo do Campo, lecionando sociologia e ajudando com aulas de humanidades. Para ela, o ponto forte da Uneafro é enxergar a educação como ferramenta de formação política. “Minha experiência é uma experiência coletiva. Essa é uma ação necessária e acima de tudo urgente”. Mônica acredita que é fundamental para os dias atuais fazer parte desta construção coletiva. “Diante de tal cenário não é de se espantar que os professores e a educação sejam postos como alvos prioritários do atual governo brasileiro”, reforçou ainda que a potência da educação popular tem ajudado a criar consciência em locais de subserviência. “Deste modo, nos permite lutar contra a exploração econômica e a dominação política preconizado por esse sistema capitalista que se alimenta das mazelas e empobrecimento de parcela esmagadora da população ao longo da história”.
Fernando Alves leciona atualidades no Núcleo Luiza Mahin, em São José dos Campos, desde 2017. Ele observa que uma das grandes conquistas da Uneafro é estimular a aprendizagem do processo educacional por meio de um formato não-tradicional, onde são feitas atividades extra-classe, debates e aulas participativas, estimulando a interação entre os participantes. “Isso fez com que já no 1° ano tivéssemos a felicidade de ter alunos passando em vestibulares e concursos públicos”. Um dos maiores aprendizados que teve ao longo dos dois anos de cursinho foi ver não só a inserção do jovem na universidade, mas a construção de seu senso crítico para entender também o espaço universitário, “percebi que os mesmos voltam para os seus territórios com vontade de modificar a realidade do seu espaço de origem”.
“É muito importante a troca que existe entre professores e alunos, se ver representado com um grupo de docentes negros” destacou Alessandra Adalylsa Rodão professora de português do núcleo de Perus. Segundo ela, seria necessário que espaços como a Uneafro fossem existententes em todos os bairros periféricos para garantir o acesso à educação. “ Neste momento em que vemos um cenário com gente morrendo e dizendo que espaços como os da universidade não é um lugar para eles”.
Samara Sosthenes passou de aluno para educadora, faz parte do Núcleo Laura Vermont, localizado próximo a estação da Luz em São Paulo, é educadora de Meio Ambiente e Ecologia, e faz parte da coordenação “Como travesti, é muito importante fazer parte de um Núcleo que leva o nome de uma travesti”. Foi aluna em 2015. “Hoje eu terminei a escola, estou terminando a ETEC e dou aula de meio ambiente e ecologia”. Acredita que um dos pontos fortes da Uneafro é compreender as vulnerabilidades dos alunos, suas histórias de vida, e capaz de falar diretamento com a periferia, negrxs e pessoas LGBTQI+ “0 fato dos professores tem uma metodologia de ensino não hierárquica”, para ela isso faz com que os alunos entendam melhor. “A metodologia de ensino é pautada nos alunos”.
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