Eu prometi a mim mesmo ficar em silêncio, mas é quase impossível controlar a raiva ao ver a propaganda midiática do ‘vampiro da baixaria’. Esta é sem dúvida uma das campanhas eleitorais mais porcas do ‘Brasil democrático’. Talvez ela sirva como importante laboratório para todas as pessoas interessadas em entender o que Perseu Abramo chamou de ‘padrões de manipulação da grande mídia’.

Só para ficarmos em um exemplo, se a Revista Isto É não tivesse publicado o escândalo do desvio de R$ 4 milhões da campanha de José Serra, o assunto não teria saído das redações dos jornalões do eixo Rio-São Paulo. O silêncio em torno dos sucessivos escândalos envolvendo lideranças do PSDB (indícios de superfaturamento no Rodoanel, Operação Castelo de Areia, indícios de superfaturamento na expansão do metrô) não chegam ao conhecimento do público porque a agenda da mídia é outra: eleger Serra presidente, custe o que custar!

A estratégia é a mesma utilizada contra Lula nas duas últimas eleições. O elemento adicional agora é a discriminação de gênero e a terceirização da boataria por meio de redes de emails. Fica difícil para a campanha da Dilma enfrentar um candidato que se recusa a discutir propostas para o Brasil e introduz no debate político uma estratégia de demonização da candidata petista a partir de boatos. Até Lula tem dificuldades em enfrentar José Serra porque sabiamente o candidato tucano não bate no presidente para não ser taxado como o anti-lula, embora seja!

A estratégia  de Serra é a seguinte: desconstruir a imagem pública de Dilma Rousseff, mas não bater em Lula. Afinal, o presidente tem 80% de avaliação boa ou ótima e 14% de avaliação regular (94%!). Em um programa, Serra diz que Dilma é uma espécie de marionete que pega carona na popularidade de Lula. Ela seria a mulher fraca do governo.  No outro programa, Serra responsabiliza Dilma por todo e qualquer desvio ético no governo, critica ela pelas obras do PAC e pela situação da saúde pública. Aqui, a Dilma aparece como a mulher forte do governo.  Como mulher, Dilma não tem escapatória nas mãos das feras tucanas: erra porque é mulher, erra porque combateu a ditadura militar, erra porque foi assessora direta de Lula, erra porque não fez mais, erra porque não fez menos.

E a estratégia demo/tucana não pára por aí. A idéia é reiterar, dia após dia, na cabeça dos eleitores, o argumento insidioso de que Dilma Rousseff, por ser mulher, não vai dar conta do recado. Aqui ela aparece no discurso do macho como a incompetente pupila de Lula.

Como enfrentar um candidato que usa de meios tão baixos em uma campanha que deveria ser pautada pelo debate em torno dos recursos do pré-sal, sobre o projeto estratégico de que nação queremos, sobre a saúde pública, a educação…?

Apertemos o cinto. Nos próximos dez dias o ‘vampiro da baixaria’ vai intensificar os ataques. Depois do fundamentalismo religioso, dos boatos em torno do aborto e da artilharia pesada em torno dos escândalos da Casa Civil, agora será a vez de acusá-la de terrorista perigosa! A bala de prata que a campanha da Dilma subestimou pode estar no gatilho. Que o diga os lobos em pele de carneiro da CNBB Sul 1.

A única maneira de barrar o jeito fascista (clique aqui para ver depoimento de Marilena Chauí) de fazer a disputa eleitoral é dizer um NÃO bem sonoro e bem vibrante ao Serra no dia 31 de outubro. Depois disso, é ocupar as ruas e praças exigindo da presidenta Dilma o compromisso com a democratização dos meios de comunicação. O PT bebe hoje o remédio amargo da covardia em enfrentar (entre outros) um dos calcanhares de aquiles da democracia brasileira: a tirania da comunicação! É aqui, nas redações do eixo Rio-São Paulo que está a verdadeira ameaça à liberdade da nossa gente!

 

Jaime Amparo

Antropólogo e membro da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores Negros)

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