Por Caio Chagas e Jéssica Ferreira

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do segundo trimestre de 2020, constatou que 12,8 milhões de pessoas encontram-se desempregadas, ou seja, cerca de 11,8% da população. Incluindo o indicador de raça à esses dados, 64,6% do total de pessoas sem emprego, segundo métricas do quarto trimestre de 2018 da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua), compõem a parcela da população considerada negra, constituídos por pretos e pardos. Já a maior faixa etária de pessoas desempregadas, com 7,3% do total de pessoas sem ocupação formal. é a de jovens entre 18 à 24 anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do segundo trimestre de 2020, constataram que 12,8 milhões de pessoas encontram-se desempregadas, ou seja, cerca de 11,8% da população. Incluindo o indicador de raça à esses dados, 64,6% do total de pessoas sem emprego, segundo métricas do quarto trimestre de 2018 da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua), compõem a parcela da população considerada negra, constituídos por pretos e pardos. Já a maior faixa etária de pessoas desempregadas, com 7,3% do total de pessoas sem ocupação formal é a de jovens entre 18 à 24 anos.

Em 2005, ano em que foram implementadas ações afirmativas voltadas para acelerar o ingresso de jovens negros nas universidades, apenas 5,5% dos jovens pretos e pardos em idade universitária frequentavam o ensino superior. Em 2015 esse número subiu para 12,8%. Por outro lado, 53,2% dos negros em idade para cursar o ensino superior estão cursando o ensino médio ou fundamental, em comparação ao percentual de 29,1% brancos. Os dados são da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais – uma análise das condições de vida da população brasileira de 2015. 

Ainda sobre Educação, a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) de 2017, comparando a taxa de entrada no ensino superior por cor ou raça, notamos que 51,5% dos brancos com ensino médio completo ingressaram no ensino superior, enquanto apenas 33,4% dos pretos e pardos, nas mesmas condições, conseguiram entrar. A desigualdade racial também é explícita entre os alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas, apenas 29,1% de pretos e pardos adentram as universidades, em comparação a 42,7% de pessoas branca. Considerando a taxa de conclusão do ensino superior, os brancos somam 22,9% em comparação aos 9,3% dos negros. 

Tratando de mercado de trabalho, o maior contingente de trabalhadores atua na Agropecuária (60,8%), na Construção civil (63,0%) e nos Serviços domésticos (65,9%), justamente as três atividades que possuíam menores retornos financeiros em 2017, segundo o IBGE. Numa análise geral dos dados obtidos em 2017, pessoas brancas ganhavam em média 72,5% a mais do que pretos e pardos. Ou seja, a desigualdade, segundo cor e raça, no rendimento médio mensal se mantém significativa, considerando a carga horária trabalhada e o nível de instrução. A população branca recebia por hora um rendimento superior à população preta ou parda, em todos os níveis de escolaridade, destacando-se maior diferença quando o nível de instrução é elevado: R$ 31,90 contra R$ 22,30, ou seja, 43,2% a mais para brancos.

Inclusão de negros no mercado de trabalho

Com mais de 9.000 inscritos em seu banco de talentos, o projeto EmpregueAfro é uma consultoria de recursos humanos voltada na inclusão de diversidade étnico-racial. Criada em 2004, o projeto tinha como premissa a capacitação de jovens negros para a admissão em multinacionais.

Com o tempo, a maior demanda se concentra na consultoria em recursos humanos e diversidade étnico-racial para empresas. A CEO e fundadora da consultoria, Patrícia Santos, ressaltou como o racismo dificulta a entrada de jovens negros no mercado de trabalho. “Recrutadores brancos que não passaram por um processo de conscientização, tendem a reproduzir o racismo e contratar pessoas parecidas com elas”. Além disso, ressalta que o racismo está em todas as esferas da estrutura hierárquica das empresas. Na opinião dela a jornada é longa para que esses jovens ocupem cargos de liderança. “Há grande dificuldade para esses jovens crescerem profissionalmente e de alcançarem os cargos de poder. Os gestores precisam delegar atividades, confiar no trabalho e permitir que eles cresçam profissionalmente, precisam acreditar que é possível crescer”.

Mas, segundo a especialista, muitas foram as conquistas possíveis de serem alcançadas graças às articulações do movimento negro. “O movimento nos últimos anos tem se organizado de forma a pressionar as marcas nas redes sociais. Isso contribuiu muito para as discussões chegarem até as grandes empresas e, de certa forma, forçar programas de porta de entrada principalmente para esses jovens”.

Ketyanne Silva, participou do programa EmpregueAfro ao trabalhar numa agência de publicidade. Ela conta que a principal dificuldade encontrada para a sua entrada no mercado de trabalho era a falta de experiência. Além disso, as dificuldades de ascensão dos jovens negros está intrinsecamente ligada na busca das empresas por profissionais que fazem ou fizeram faculdades renomadas, possuem inglês fluente, e principalmente, no fato dos chefes serem brancos.

Acredita que a mudança está nas articulações entre pessoas negras, o que têm ajudado a abrir portas com resultados econômicos reais. Por isso, Ketyanne é fundadora do projeto “Planilhas de Pretos”, que tem como intuito compartilhar planilhas com indicações de profissionais negros de diversas áreas. “Minha motivação é, de um lado, dar visibilidade a profissionais negros. E por outro lado, facilitar o acesso das pessoas à profissionais que entendam suas vivências”. Para ela o mercado de trabalho ainda tem muito a se transformar “Espero que daqui a 10 anos não tenhamos que assinar pacto de inclusão porque será algo natural, e não exceção”.

Pontes e Redes de apoio

Leila Evelyn é formada em relações públicas e atua como analista de comunicação sênior em uma multinacional. Durante sua vida universitária experienciou por diversas vezes o racismo institucional. Segundo ela, era algo latente que a impedia o tempo todo de permanecer com tranquilidade na instituição. “Isso acontecia até mesmo nas temáticas dos trabalhos, eu não podia falar de mim, da minha identidade, mas quando [os estudantes] brancos faziam trabalhos sobre [as pessoas] brancas, não tinha problema”. Já em sua àrea de trabalho conta ser muito difícil ver pessoas negras em cargos de poder. “Trabalhei em uma equipe que tinha somente 10 pessoas negras. Quando expandimos para os funcionários da limpeza esse número chega a 25”.

Mas para Leila o mais importante tem sido experienciar a construção do seu projeto pessoal com outras jovens negras. O projeto Pretas comprando de Pretas surgiu a partir de uma experiência vivida em 2015, o “Enegrecendo a Comunicação”, e tem por intuito fomentar uma rede de apoio e entrada de mulheres negras no mercado de trabalho. “Surgiu dessa emergência da solidão que eu sentia”, conclui. 

Hoje o grupo, no Facebook, conta com mais de 19,7 mil mulheres que vendem seus produtos e trocam experiências sobre o empreendedorismo econômico de mulheres negras. “O projeto visa construir essas pontes. Sem o contato com o outro, você não consegue chegar a lugar nenhum”. E ela acrescenta que enxerga para o futuro a necessidade de construção de lideranças e o aprofundamento da questão racial. São pontos primordiais para a criação de espaços para os jovens no mercado de trabalho “muitas dessas sementes que estamos plantando vão estar dando os primeiros botões”.

Verônica Dudiman trabalha com planejamento em uma agência de publicidade e é co-criadora do projeto Indique Uma Preta. Criada em 2016, essa iniciativa tem por propósito ser uma rede de apoio, de empregabilidade e de desenvolvimento profissional para mulheres negras. Também no Facebook, o grupo conta com mais de 6,8 mil mulheres participantes, que trocam experiências profissionais, ampliam suas redes de contatos e ainda podem participar de cursos oferecidos pelo projeto para melhorarem seu currículo.

Na opinião dela, o mercado de trabalho só tem a ganhar com as pressões que o movimento negro tem feito para aumentar a empregabilidade dos profissionais negros. “Fica mais real, com visões plurais e a empresa tem entregas mais próximas do que o consumidor espera. As campanhas e o repertório se ampliam”. Verônica vê nessas articulações um processo de tomada de consciência da população negra sobre si. “Primeiro nós tivemos os programas de cotas para as universidades, agora estamos tendo essa conscientização no mercado de trabalho e se continuarmos assim teremos um cenário mais positivo que o atual”. 

Segundo Dudiman, as redes de apoio ainda são necessárias para dar uma perspectiva maior aos jovens negros da periferia. “Até hoje, a maioria das contratações se dá por quem indica ou pela prioridade em universidades prestigiadas. Os jovens negros, em sua maioria, não estão ali”. Antes de entrar no mercado de trabalho de criação e estratégia ela já sentia a necessidade de ter que provar o seu valor. “Você tem que ser duas vezes melhor em tudo que faz. É um  processo que permeia por toda a vida”. Afirma ter sofrido situações de racismo institucional ao longo de sua carreira. Ouvia comentários sutis sobre como arrumava seu cabelo, como falava e até mesmo como organizava seu trabalho. “São marcas que te impactam de maneira tão forte que você acaba carregando elas para outros espaços”. 

Educação e empregabilidade andam juntos

Cientista social, coordenador do núcleo de Poá e membro do Conselho Geral da Uneafro Brasil, Wellington Lopes, observa que as maiores dificuldades para jovens negros ingressarem no mercado de trabalho reside em dois aspectos: a baixa escolaridade e a falta de oportunidade. “Muitos jovens negros vão aceitar trabalhos informais como uma maneira de sobreviver. Aos 16 anos eu trabalhava numa loja de roupa, informalmente, era vendedor e estoquista, chegava a trabalhar 10 horas por dia, até meia noite.” Sobre o racismo no ambiente de trabalho ele lembra “às vezes eu ouvia apelidos, o clássico “neguinho” sem nome”.

Acrescenta que além da falta de oportunidades no mercado de trabalho, os jovens negros sofrem com a falta de acesso às universidades e quando conseguem entrar se deparam com outros desafios para se manter. Ele mesmo, ao ingressar com 18 anos na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), dividia o aluguel de uma república com quatro amigos “A gente só tinha uma bolsa financiada pelo CNPq, de 400 reais”, diz. Para Wellington foi fundamental a ajuda que teve dos amigos e até mesmo de professores da Uneafro. Por fim observa que a universidade ainda tem muito o que avançar para a inclusão de estudantes negros. “Quando estamos diante de algo que não nos representa e ainda temos que sobreviver no cotidiano, estudar parece ficar cada vez mais desinteressante. Por isso, falar sobre a necessidade de termos negros nas universidades tem a ver com a necessidade de falarmos sobre como podemos garantir o acesso de grupos antes excluídos da universidade.” Acrescenta que a falta de oportunidades nas regiões periféricas faz com que esses jovens tenham que se deslocar em grandes trajetos em busca de emprego. “Precisamos compreender como mudar esse cenário” conclui.

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